Cinetose é a sensação de mal estar que sentimos quando viajamos em carros, barcos, ônibus e até avião. É bem frequente na população, mas em intensidades muito  variadas. Neste post vou falar detalhadamente como diagnosticar, prevenir e tratar esta condição.

Sintomas

A cinetose é caracterizada por uma fase inicial de desconforto físico e bocejos periódicos, o que ocorre cerca de 30min após o início da viagem. Esses sintomas são seguidos por náusea, vômitos, palidez, sudorese, aumento da salivação, hipersensibilidade a odores, dor de cabeça,  tontura, fadiga, perda da capacidade de concentração, inabilidade de realizar tarefas e sensação de desmaio iminente.  Em casos muito intensos, podem ocorrer ainda choque com desidratação intensa, estado de pânico agudo, sensação de morte iminente e perda dos reflexos de sobrevivência. 

Os sintomas desaparecem espontaneamente (sem tratamento) em horas ou dias após cessados os estímulos desencadeantes.

Causas

A cinetose é gerada por conflito entre as informações geradas nos 3 sistemas envolvidos no equilíbrio corporal, sendo eles: vestibular, visual e proprioceptivo (este último é definido como a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão).

Um exemplo clássico é a ilusão de movimento quando estamos dentro de um carro ao lado de um ônibus que acelera ao nosso lado: o sistema vestibular e o somatossensorial nos informa que estamos parados enquanto o sistema visual informa movimento de imagem. 

Outro exemplo é quando estamos lendo dentro de um ônibus. O sistema visual identifica que estamos parados, mas o sistema vestibular e o proprioceptivo indicam movimento. Perceba que se o indivíduo estivesse olhando para o horizonte, no banco da frente de um carro, o sistema visual também perceberia o movimento e não existiria conflito entre as informações geradas. 

No caso do barco, ainda temos movimento vertical, gerado pelas ondas, o que gera ainda mais conflito sensorial.

Essas informações são enviadas ao centro integrador e comparadas com informações armazenadas na memória. Caso o estímulo não seja reconhecido quando comparado às informações armazenadas, provocará um sinal conflituoso que, atingindo o centro do vômito, provocará os sintomas da cinetose. 

Entretanto, com o aporte contínuo de novas informações sensoriais às áreas de memória, o padrões sensoriais existentes vão se modificando e forma-se um novo mapa sensorial. Esse fenômeno é conhecido como habituação e é a explicação para os sintomas cessarem espontaneamente após um período longo de viagem.

Susceptibilidade

Pode ocorrer em qualquer indivíduo, mas é mais comum em crianças  maiores de 2 anos, mullheres, pacientes com enxaqueca e história familiar de cinetose. 

A susceptibilidade está localizada nos centros de integração e comparação descritos no item anterior -CAUSAS.

Diagnóstico

O diagnóstico da cinetose é essencialmente clínico, com base no relato dos sintomas pelo paciente. Os exames vestibulares são importantes para avaliar o estado funcional do sistema vestibular, e afastar outras doenças, o que será muito útil na elaboração de estratégias de prevenção e tratamento. Espera-se que todos os exames vestibulares estejam normais.

Prevenção

Uma estratégia para a prevenção são modificações ambientais e adaptações posturais para minimizar a discrepância entre os estímulos. Em viagens de navio, por exemplo, os passageiros poderiam fixar os olhos no horizonte e em viagens de carro, sentar-se no banco da frente e fixar os olhos no horizonte aos invés de observar objetos próximos (livro ou celular). Por isso que quem dirige o carro raramente tem sintomas de cinetose, já que assume todas essas medidas recomendadas anteriormente. Os pacientes que têm cinetose devem ser estimulados a aprender a dirigir e assumir a direção sempre que possível.

Os medicamentos devem ser usados na prevenção, ou seja, antes da viagem, uma vez que sua efetividade é limitada após instalação dos sintomas. Devem ser usados no mínimo 30min antes da viagem, mas com certas variações entre cada medicação. Os mais utilizados são: ondansetrona, metoclopramida, domperidona, meclizina, dimenidrinato, escopolamina. Lembre-se que toda medicação deve ser receitada  por um médico, após avaliação de cada paciente, e escolha da melhor medicação e melhor dosagem para cada paciente. Nada de pegar a medicação que o vizinho usa!

A prática de atividade física também ajuda na compensação vestibular e pode acelerar a habituação. Os exercícios mais indicados são aqueles que utilizam movimentos recorrentes da cabeça associados a estímulos visuais, como dança, tênis e artes marciais.

Tratamento

Os medicamentos são usados quando os sintomas já estão instalados, mas com efetividade limitada. O desembarque, abrigo em águas calmas, parada do veículo ou pouso em terra firme cessa completamente os sintomas. 

A reabilitação vestibular é o tratamento definitivo para cinetose, pois promove a adaptação vestibular por meios de exercícios que atuam no ganho do reflexo vestíbulo-ocular.

É claro que temos que ter bom senso. Qualquer paciente que tenha um único episódio de cinetose precisa de reabilitação vestibular? Não! Os pacientes que tem mal estar apenas quando viajam de navio ou em viagens longas ou tortuosas de ônibus, por exemplo, se beneficiam com uma simples medicação antes dessas viagens. Já os que enjoam em qualquer viagem de ônibus dentro da própria cidade ou têm sintomas tão intensos que não conseguem aproveitar os passeios terão uma enorme melhora da qualidade de vida com a reabilitação vestibular.

Dra Kênia Assis Chaves

Médica Otorrinolaringologista

CRMMG 52018

RQE 33072

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