Se eu pudesse dar um único conselho para quem convive com zumbido, misofonia ou hiperacusia, ele seria simples e direto: busque tratamento especializado. Esses sintomas não são “frescura”, nem algo que você precisa aprender a conviver sozinho. Existem tratamentos eficazes e eles podem transformar sua qualidade de vida.
Meu nome é Dra. Kênia Chaves, sou médica otorrinolaringologista com subespecialização em otoneurologia, área responsável pelo diagnóstico e tratamento de tontura, zumbido e intolerância aos sons. Neste artigo, vou te explicar de forma clara como funciona o tratamento de cada uma dessas condições.
O que é zumbido?
O zumbido é a percepção de um som que não existe no ambiente externo. Ele pode ser descrito como:
- Apito
- Chiado
- Barulho de panela de pressão
- Grilo ou cigarra
- Batimento cardíaco
- Estalos ou “marteladas” na cabeça
O grande problema do zumbido não é apenas o som em si, mas o sofrimento que ele provoca, afetando:
- O humor (ansiedade, irritabilidade, tristeza)
- O sono (dificuldade para dormir ou manter o sono)
- A concentração
- O desempenho no trabalho ou estudos
- A audição e a compreensão da fala
- A memória
Por que o zumbido acontece?
O zumbido não é uma doença isolada, mas um sintoma que pode ter várias causas. Alterações em qualquer parte da via auditiva podem estar envolvidas, como:
- Perdas auditivas e problemas no ouvido
- Nervos que levam o som ao cérebro
- Doenças neurológicas
- Alterações no próprio cérebro
- Deficiências de vitaminas e minerais
- Estados de inflamação crônica, como:
- Rinite alérgica
- Asma
- Distúrbios intestinais
- Apneia do sono
- Diabetes não controlado
Na prática, é comum encontrarmos mais de uma causa associada, e o tratamento é feito por etapas, priorizando sempre o que é mais importante e mais urgente.
Como é o tratamento do zumbido?
O tratamento geralmente tem duas fases:
- Reduzir o incômodo e o sofrimento causados pelo zumbido
- Trabalhar para reduzir ou eliminar a percepção do som
É importante ser sincera: nem sempre conseguimos eliminar totalmente o zumbido. Porém, a maioria dos pacientes consegue recuperar a qualidade de vida, dormir melhor, ter menos ansiedade e voltar a viver de forma mais leve.
Intolerância ao som: Misofonia e Hiperacusia
Sentir incômodo com sirene, fogos de artifício ou som muito alto é algo natural. O que não é normal é:
- Perder o controle emocional com sons
- Evitar ambientes sociais por causa do barulho
- Se incomodar com sons baixos do dia a dia
- Não conseguir ficar perto de outras pessoas por causa dos sons
Existem dois quadros principais:
Misofonia
Desconforto intenso com sons baixos e repetitivos do dia a dia, geralmente produzidos por pessoas, como:
- Mastigação
- Digitação
- Talheres batendo no prato
- Sons de respiração ou deglutição
Hiperacusia
Desconforto com sons mais altos, como:
- Televisão em volume considerado “normal” para outras pessoas
- Música alta
- Barulho de trânsito, ambulâncias e alarmes
Existe um exame específico que ajuda a diferenciar as duas condições, chamado pesquisa do LDL (nível de desconforto sonoro).
Como é o tratamento da misofonia e da hiperacusia?
Apesar de parecidas, o tratamento é diferente para cada uma:
- O uso de tampões de ouvido não é recomendado, pois pode piorar o quadro a longo prazo.
- O tratamento é baseado em dessensibilização sonora, feita com fonoaudióloga especializada, de forma gradual e segura.
Na hiperacusia:
- Investigamos possíveis causas físicas
- Exames detalhados são realizados
- Em alguns casos, utilizamos medicações específicas
- Acompanhamento médico regular é essencial
Na misofonia:
- A origem costuma ser mais emocional e neurológica
- O acompanhamento psicológico é fundamental
- Ajustes no estilo de vida são parte do tratamento:
- Alimentação saudável
- Atividade física regular
- Sono reparador
Em alguns casos, podem ser utilizados medicamentos e suplementos de forma individualizada, sempre sob orientação médica.
Existe tratamento e ele é baseado em ciência
Tratar zumbido, misofonia e hiperacusia não é tentativa e erro. Existe técnica, ciência e protocolos bem definidos.
Você não precisa conviver com esse sofrimento em silêncio.
Se esses sintomas fazem parte da sua rotina, procure avaliação com um otoneurologista. Quanto mais cedo iniciar o tratamento, melhores são as chances de melhora.
Dra Kênia Assis Chaves
Médica otorrinolaringologista
CRMMG52018 RQE 33072