Um dos comentários que mais ouço no consultório é:
“Doutora, eu tenho labirintite.”
Mas será que é isso mesmo?
Meu nome é Dra. Kênia Chaves, sou médica otorrinolaringologista e otoneurologista, e hoje quero esclarecer de uma vez por todas o que realmente significa labirintite e por que tantas pessoas confundem esse termo com tontura.
Afinal, o que é labirintite?
A labirintite verdadeira é uma doença rara e grave.
Ela acontece quando há uma infecção ou inflamação intensa no labirinto – a parte do ouvido interno responsável pelo equilíbrio.
Os sintomas clássicos são:
- Perda súbita da audição em um ouvido
- Vertigem intensa (aquela sensação de que tudo gira ao redor)
O quadro é tão sério que, geralmente, o paciente precisa de internação hospitalar, uso de antibióticos e corticoides na veia. Além disso, a perda auditiva costuma ser permanente, e o labirinto afetado nunca mais volta a funcionar normalmente.
Felizmente, essa condição é muito rara. Em toda minha prática médica, só presenciei um caso.
Então, por que tantas pessoas dizem que têm labirintite?
Na verdade, o que a maioria dos pacientes apresenta são as chamadas labirintopatias – doenças do labirinto que causam tontura, mas que não são labirintite.
Os sintomas geralmente são:
- Crises de tontura que vão e voltam
- Períodos bons e períodos ruins
- Crises que duram minutos ou horas, mas com recuperação total em poucos dias
- Muitas vezes sem perda auditiva
Esses quadros devem ser investigados por um otoneurologista, o otorrinolaringologista especializado em distúrbios do equilíbrio.
Como investigar a tontura?
Para diferenciar as doenças do labirinto, avaliamos a história clínica do paciente, o exame físico e exames complementares.
Entre os principais exames, estão:
- Vectoeletronistagmografia – mais antigo, mas muito útil para diferenciar causas neurológicas de vestibulares.
- VHIT (Video Head Impulse Test) – mais moderno, simula movimentos do dia a dia e avalia o labirinto em velocidade real.
- Audiometria, ressonância magnética e exames de sangue, conforme os sintomas.
As labirintopatias mais comuns
1. Neurite vestibular
- Vertigem súbita, intensa e incapacitante, que dura dias
- Sem perda auditiva
- Geralmente após infecções como gripe ou sinusite
- Tratamento: corticoides, medicamentos de suporte por curto período e reabilitação vestibular precoce
2. Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB)
- Vertigem breve (segundos), desencadeada por movimentos da cabeça
- Sem sintomas auditivos
- Causada pelo deslocamento dos “cristais” do labirinto
- Tratamento: manobras de reposicionamento e investigação das causas para evitar recorrência
3. Doença de Ménière
- Tríade clássica: perda auditiva flutuante em um ouvido, sensação de ouvido tampado e vertigem de horas de duração
- Crises recorrentes, que podem evoluir para perda auditiva definitiva
- Relacionada ao acúmulo de líquido no labirinto
- Tratamento: controle de fatores metabólicos, medicamentos específicos, reabilitação vestibular e, em alguns casos, aparelho auditivo
Conclusão
👉 Nem toda tontura é labirintite.
👉 E nem toda tontura é igual.
Cada caso deve ser avaliado individualmente, com diagnóstico correto e tratamento direcionado.
Se você sofre com tontura ou suspeita de alguma alteração no equilíbrio, agende uma consulta com um otoneurologista.
Estou à disposição para ajudar.
Dra Kênia Assis Chaves
Médica Otorrinolaringologista
CRMMG 52018
RQE 33072